O aumento dos preços nos Estados Unidos da América (EUA) tem levado a um conjunto de medidas de modo a controlar a inflação. Nesta senda, o Federal Reserve (Banco Central americano), nos últimos dias anunciou um aumento da taxa de juros na ordem dos 0,75 pontos percentuais. Especialistas mundo afora ponderam que mais subidas estejam por vir.
Entretanto, esse processo de reajustes para cima que se tem verificado nos últimos meses, tem provocado uma onda de impactos em distintas economias espalhadas pelo mundo, fazendo com que, Bancos Centrais locais (incluindo economias do G7) reajustem de igual modo suas taxas no intuito de evitar fuga de capitais, principalmente de investidores estrangeiros ou de aplicações em moeda estrangeira (divisas). Ora vejamos, essa diferença de taxa entre os Bancos Centras dos países desenvolvidos e o Federal Reserv, pode fazer com que os investidores emigrem seus recursos financeiros para o mercado americano em busca de maior rentabilidade, outrossim, em busca de maior segurança.
Enquanto Bancos Centrais de países como Africa do Sul, Reino Unido, Nigéria, Suíça, Indonésia, Filipinas, Taiwan, Noroega, etc. Seguem aumentando suas taxas de juros devido aos impactos advindo da subida da taxa de juros nos EUA, o Banco Nacional de Angola anunciou uma descida de 20% para 19,5%.
Por outra, a postura do Federal Reserv tem sido um dos principais motivos a fazer com que a moeda norte americana atinja níveis de valorização altos face um conjunto de moedas também usadas em transações internacionais – como o Euro, a Libra e o Yuan (este ultimo em menor grau). Normalmente, a valorização do Dólar implica na desvalorização das outras moedas, e vice-versa, a valorização não se da por si só, é necessário haver duas variáveis para uma margem de comparação. A menos de um mês, o Euro seguia a negociar por menos de 0,99 por 1Usd – o valor mais baixo em quase 20 anos. A Libra esterlina por sua vez, segue registando mínimas históricas, valores não vistos desde o início dos anos 70, chegando a ser negociada $1,0349 por 1 Usd na última semana de Setembro. De modo geral, enquanto Bancos Centrais locais lutam para conter a inflação, muitos investidores seguem trocando a Libra/Euro por moedas mais fortes como o Dólar.
Um Dólar alto ajuda a pressionar os níveis de inflação das outras economias que precisam deste para importar bens e serviços - para importar soluções. Resumidamente, ficou mais difícil ou caro ter acesso ao Dólar, o que influencia no encarecimento dos bens e matéria-prima importada para produção nacional. A valorização do Dólar é de longe apontada como uma das principais causas da inflação na zona Euro e não só, com Portugal a atingir patamares que não se viam a quase 30 anos.
A globalização e a interdependência do sistema financeiro global, têm permitido que desajustes nos países do primeiro mundo (principalmente), rapidamente causem efeitos (positivos ou negativos) para as restantes economias, principalmente as economias dos países emergentes e/ou em desenvolvimento.
Desta feita, porquê Angola baixou a sua taxa de juros central enquanto as maiores economias do mundo segue aumentando face a forte valorização do Dólar?
Qualquer resposta a questão acima colocada, em seu fim último vai nos remeter ao mercado petrolífero, este que por sua vez atingiu níveis históricos graças ao play do conflito entre a Rússia e a Ucrânia e não só. O preço alto do Barril de Brent, que em Junho chegou a ser comercializado por +140 Usd o Barril, permitiu o alcance da estabilidade no mercado cambial angolano (aumentou-se a oferta de divisas no mercado interno), deixou o preço dos bens e serviços importados mais baratos, e, igualmente o preço da matéria-prima para produção nacional mais acessível. O Estado conseguiu também deixar as reservas cambiais e/ou reservas internacionais líquidas em um nível considerado satisfatório.
Ao justificar a ligeira descida da taxa de juros, Massano apontou o que estaria na base do reajuste - a liquidez do Kwanza que manteve-se estável e a sua apreciação face as principais moedas internacionais, o que influenciou sucessivas quedas nos preços dos bens de consumo que se tem verificado desde o começo do ano.
Uma taxa de juros mais baixa a anterior poderá deixar o financiamento ou o credito a economia real mais barato, visto que, a taxa BNA influencia as demais taxas vigentes no mercado, contudo, não pode ser entendida como um factor que por si só poderá facilitar o acesso ao crédito para os produtores e/ou investidores nacionais, pois, os empecilhos que impossibilitam o “mais crédito” vão além de uma taxa de juros ligeiramente mais baixa que a anterior. Factores estruturais, burocracias, e garantias exigidas pela Banca, a muito configuram-se como a pedra no sapato dos nossos produtores/investidores.
A economia angolana ainda é fortemente afetada pelos choques da economia global, e é fundamental atentarmos para as linhas transfronteiriças, que o bom momento do petróleo não nos leve a decisões precipitadas, pode ser a hora de começarmos a pensar em baixar a taxa de juros – como se fez, entretanto, atendendo a nossa realidade socioeconómica, qualquer variação negativa acelerada da cotação do brent nos fará subi-la (a taxa) de novo.
Outrossim, com relação as dividas a serem liquidadas em moeda estrangeira, um Dólar mais caro incorrerá em riscos no aumento do custo do crédito.
Considerando que uma queda abrupta na demanda de petróleo poderá gerar maiores estoques e preços mais baixos, o olhar atento a contenção de um novo processo inflacionário deve ser constante – principalmente a partir de agora, onde é consensual entre os especialistas uma tendência de queda no preço da cotação do petróleo para os próximos meses.
~ QUINGURI Alex (Economist) - 30/09/2022
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