A Europa foi a primeira região do mundo a experimentar a industrialização, também chamada "industrialização clássica", onde a Inglaterra demarca-se como principal pioneira - Isto no século XVIII, o século da primeira revolução industrial - o século da máquina a vapor. O carvão foi uma fonte energética muito utilizada, permitindo dar vida a muitos processos mecânicos, porém, o índice de poluição (emissão de CO2) era elevadíssimo.


Os países emergentes ou subdesenvolvidos (Brasil, China, Índia, África do Sul, etc.) experimentaram o processo de industrialização mais tarde (depois da segunda guerra mundial). A chamada :industrialização tardia".

Todos os países do mundo que hoje são considerados desenvolvidos, passaram por um processo de intensa transformação industrial, hoje, nenhum país rico é desindustrializado.

O avançar da industrialização permitiu, igualmente, o avançar da urbanização, infraestrutura, transportes, comunicação, comércio, geração de novos bens, serviços e carreiras, junto a tudo isso, o avançar da industrialização arrastou consigo um estado de degradação ambiental. Facto que tem feito com que nos últimos anos líderes mundiais se reunam para discutir questões ligadas a poluição e tecnologias alternativas de modo a conter a emissão e propagação de CO2 e não só, ao meio ambiente.

De modo geral, a industrialização está estritamente ligada ao desenvolvimento, coibir a industrialização, principalmente nos países pobres, é coibir o desenvolvimento.
Os países mais ricos do mundo (G8) também são os mais desenvolvidos/industrializados, juntos geram quase 70% da riqueza mundial.

INDUSTRIALIZAÇÃO NA ÁFRICA

Uma iniciativa da ONU - o "dia da industrialização africana" ou "industrialização da África"  é assinalado aos 20 de Novembro. A medida, em última instância visa promover a industrialização no continente.

Quando a literatura fala de países com industrialização tardia, os que se destacam são os países latino-americanos e asiáticos, grosso modo, nos dias atuais, os paises do continente africano são considerados simplesmente de desindustrializados. Ao olharmos para economia angolana, a questão torna-se indiscutível quando remetemo-nos a nossa pauta de exportação/importação.

Enquanto outros países seguem produzindo vacinas, descobrindo e explorando novos planetas, processando novas tecnologias - celulares e computadores super potentes, experimentando uma transformação digital avançada, etc. A nossa luta ainda consiste em ter uma indústria transformadora/de'Base e/ou extrativa eficientes.

Uma industrialização de verdade é necessária para garantir que o crescimento dos países africanos seja abrangente e inclusivo - aumento da produtividade, capacidade da força de trabalho, geração de empregos, fortalecimento das moedas, etc.
Pra que entendas o quanto a desindustrialização é uma pedra no sapato dos países africanos, veja o facto abaixo:


África é o continente que mais produz cacau no mundo, Costa do Marfim, Gana, Nigéria e Camarões, destacam-se entre os cinco maiores produtores do mundo. O chocolate é feito de cacau, plantamos e colhemos o cacau e de seguida o exportamos, os importadores, pegam no cacau e transformam-lo em chocolate, doces e bonbons distintos, os africanos alguns dias depois importam o chocolate a um preço muito mais elevado, essa dinâmica, é verificada em distintos bens na pauta de exportação/importação dos países africanos. Um verdadeiro desfalque as suas balanças comerciais. Exportamos bens com baixo valor agregado, importamos bens com alto valor agregado.
O processo de transformação do cacau em chocolate, nos paises que assim o fazem, gera emprego e renda, fatores estes que seriam gerados na África, se começassemos desde cedo a executar uma estratégia de industrialização sólida.

Quando olhamos para os rankings como: países mais desenvolvidos do mundo, países mais industrializados do mumdo, países mais ricos do mundo, países com melhores condições de vida do mundo, países com melhor provisão de internet do mundo, etc, de modo geral os paises africanos acabam ocupando sempre as piores posições. Tal facto é mais que suficiente para nos levar a uma auto-reflexao sobre a África que queremos dar as gerações vindouras.

A ERA DO MEIO AMBIENTE SAUDÁVEL

Costumo dizer que, todos os países ricos de hoje, passaram por um processo de industrialização altamente poluente pra estarem onde estão agora, ainda assim, atualmente, estes seguem sendo os que mais emitem gases poluentes na atmosfera.

Um dos grandes desafios dos paises pobres é justamente este, o discurso do meio ambiente saudável, questão que, até certo ponto pode condicionar negativamente uma industrialização massiva na África. A ONU segue batendo na mesma tecla, incentivando estratégias de industrialização ecológicas e limpas que promovam oportunidades económicas equitativas,  que considerem a urgência de enfrentar a crise climática atual.

Dentre os 20 países com maior acúmulo de emissões de CO2 entre 1850 a 2021 apenas um deles é africano (Africa do Sul), e encontra-se no fim da lista. Confira o gráfico abaixo:

Nos dias atuais, só os EUA emite mais CO2 que o continente africano (55 países juntos), a China, India e UE idem.

São as tecnologias ou energias alternativas tão eficientes quanto aquelas que pretendemos substituir!? Quem produz tais tecnologias!? Quanto vai nos custar!?

"Penso que, entre os paises pobres a problematica da industrialização massiva é mais urgente que a questão ambiental", um dos motivos é: somos os que menos poluem no mundo, para que haja equilibrio, o corte de emissão de gazes poluentes deve recair grandemente sobre aqueles que mais poluem, nomeadamente: EUA, China, Índia, União Europeia, etc.

Por outra, são os paises desenvolvidos, que na tentativa de acelerar suas indústrias e crescimento econômico, seguem não cumprindo certos acordos em torno do meio ambiente saudável, a título de exemplo, quatro dos cinco maiores produtores de automóveis do mundo, não assumem o acordo da COP26. A ideia é que até 2040 a maior parte dos carros deixe de ser emissor de gases de efeito estufa, dito de outra forma, que deixem de usar combustíveis fósseis.

PORQUÊ A ÁFRICA SE ENCONTRA NAS CONDIÇÕES EM QUE ESTÁ (DESINDUSTRIALIZADA)?

1 - Politicas macroeconômicas falhas;

2 - Falta de compromisso e seriedade com o desenvolvimento do continente (países africanos) por parte dos que são chamados a geri-los (Governos);

3 - Capital humano baixo ou fraco;

4 - Boicotes e interferências de entidades externas (Governos e grandes firmas) para obtenção de fins que não agregam ao continente;

5 - Multinacionais exploradoras de recursos naturais/minerais sem compromisso com desenvolvimento local, associado a exploração de mão de obra barata;

6 - Conflitos civis que geram instabilidade e afugentam investimentos;

7 - Corrupção - Sistemas de justiça e garantias de propriedade pouco confiaveis.

8 - Ambiente de negócio não propício a geração de investimentos, trabalho, emprego e renda - fraca infraestrutura associado a uma provisão de água, energia e vias de acessos deficientes;

9 - Mercados financeiros/de'Capital fracos ou inexistentes, comum em países onde o empresariado privado é fraco, onde o índice agregado de produtividade é baixo.

O QUE FAZER PARA TIRAR A ÁFRICA DAS CONDIÇÕES EM QUE ESTÁ (DESINDUSTRIALIZADA)?

1 - Geração de politicas macroeconômicas que visam, primeiramente, atender os nossos problemas essências - parar de importar soluções que não geram resultados ou que não se encaixam a nossa realidade socio-cultural;

2 - Geração de uma zona de comércio livre entre os países da região - o que já existe, porém é necessaria sua materialização;

3 - Geração de um sistema monetário equilibrado, que ajude a gerar moedas fortes e estaveis (políticas monetárias sérias de modo a conter possiveis surtos inflacionários não relacionados com as políticas fiscais);

4 - Facilitar a importação de bens de capital, principalmente aqueles destinados a intensificação das atividades industriais, através de benefícios, isenções ou manipulação da taxa de câmbio/juros. Novos equipamentos e tecnicas de modo a aumentar a produção/produtividade.

5 - Geração de capital humano capaz de resolver problemas, mesmo que a princípio importados, medidas voltadas ao passamento de conhecimento devem ser estimuladas;

6 - Geração de instituições fortes e seguras, principalmente as publicas com finalidade de conceder aval a projetos que geram desenvolvimento. Reduzir burocracias e incertezas, melhorar as expectativas dos agentes econômicos;

7 - Intensificação em pesquisas e desenvolvimento (P&D), mais verbas do OGE precisam ser alocadas a este segmento.

8 - Materializar a ideia de se criar uma moeda africana, de livre circulação e aceitação em todos os países do continente. Exportação/importação entre os paises africanos ou para fora do continente deverão ser feitas através desta moeda;

9 - Construir uma visão de longo prazo para o continente e trabalhar para materializa-la. Que continente querenos ter daqui a duas décadas, quais caminhos vamos seguir para alcança-lo!?

No final, muitos sabem o que tem que ser feito para melhorar realidade dos paises pobres ou desindustrializados, a questão que me vem é, porquê fazemos muito pouco!?

É fundamental olharmos para as questões que mais afligem as nossas populações e arregaçar as mangas para resolve-las, e certamente a industrialização massiva é uma delas, muitos produtos que saiem daqui como meras matérias primas e voltam totalmente transformadas, poderão, evidentemente passar a serem transformadas em nosso solo, gerando emprego, renda e riqueza.

Escrito por: QUINGURI F. Alexandre - Economista.

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