Os governos da África do Sul e de Angola assinaram no dia 24 do corrente mês, em Pretória, cinco acordos no âmbito da visita de Estado do Presidente da República de Angola, com destaque para o entendimento alcançado sobre a isenção recíproca de vistos em passaportes ordinários.

Mediante tal fato, e diante tanta euforia por parte de alguns angolanos, pretendo com isso fazer uma análise critica do que está acontecendo, até que ponto tais acordos beneficiam Angola ou África do Sul.

Apoio qualquer acordo ou integração transfronteiriça, desde que, com isso, meu país (Angola) não fique para traz e encontre vantagens relativamente proporcional ao do país com quem negocia, que a disparidade de vantagens entre ambos países não seja tão grande, (ou seja, que haja mais ganhos do que perdas mediante determinado acordo).

De forma resumida, os angolanos que têm o passaporte só precisam de comprar o bilhete de passagem e ir à África do Sul (onde poderão permanecer até três meses). Os vistos que serão requeridos e que deverão ter tratamento na Embaixada são os de pessoas que poderão permanecer por longos períodos na África do Sul. Estudantes, homens de negócios ou trabalhadores (exige-se a aquisição de vistos).

Embora não haja uma definição única do que seja Turismo, as Recomendações da Organização Mundial de Turismo/Nações Unidas sobre Estatísticas de Turismo, definem-no como "as atividades que as pessoas realizam durante suas viagens e permanência em lugares distintos dos que vivem, por um período de tempo inferior a um ano consecutivo, com fins de lazer, negócios e outros. Aí está a questão, a isenção de vistos para angolanos concentra-se nisto, a prioridade está focada em pessoas que vão para África do Sul buscando atracões turísticas ou efetuar compras.

Tal facto estimulará um grande numero de Angolanos (classe média, média-alta e alta, "se é que estas classes em Angola existem") a irem para África do Sul de forma a gastarem, fazer compras, conhecer pontos turísticos, curtir umas férias, saborear novos pratos, conhecer a famosa floresta artificial, fazer compras, gastar, gastar e gastar, toda esta dinâmica que vai acabar estimulando o setor turístico e comercial deste país, gerando mais renda e uma maior diversificação deste setor na África do Sul.

Embora os acordos sejam parcialmente reciprocos, o setor turístico em Angola é muito fraco, bem como não se vê tanta expectativa de Sul-africanos querendo ir para Angola como Angolanos querendo ir para a África do Sul.

Penso que, esses acordos tinham de ter como prioridade pessoas Jurídicas (empresas), se a questão for mesmo estimular os negócios entre ambos, pessoas jurídicas seriam as primeiras a ter acesso facilitado, visto que, entrar na África do Sul (como pessoa física) com visto de turista nunca foi assim tão difícil, (considerando os últimos três anos) independentemente de haver acordos ou não, assim empresários angolanos em nome de suas empresas demandariam bens de capital Sul-africanos de forma a agregar valor em Angola.

Enquanto isso, cidadãos angolanos, vão para África do Sul fazer turismo e comprar alguns "ténis da Nick e Celulares" para revender em Angola (o que já era costume bem antes destes acordos), essa dinâmica não promove em nada o crescimento ou surgimento de uma possível base industrial angolana “vamos continuar comprando para revender" em vez de produzir internamente.

Em abril do ano em (2017), o encarregado comercial da Embaixada da África do Sul em Angola, reagindo à queda nos negócios, encorajou os empresários angolanos a exportarem para o seu país a madeira, café, e sobretudo, petróleo. Reforçar os negócios por três razões: 1) estamos próximos; 2) temos a tecnologia; 3) porque Angola tem petróleo e África do Sul não.

É possível constatar algumas melhorias (expectativa) na macroeconomia angolana mediante direção de um novo presidente. Mas, ainda assim Angola não possui estrutura suficiente ou em condições para atrair o número de investimento estrangeiro necessário. No país ainda há fragilidade económica, baixo poder de compra por grande parte da população (classe baixa) e tensões políticas.

A muito, Angola tem concentrado sua maior receita na venda de petróleo e outros bens minerais, remetendo o país a uma constante dependência das volatilidades internacionais, enquanto isso, o encarregado comercial da Embaixada da África do Sul em Angola, Matomé Mbata, reagindo à queda nos negócios, encorajou os empresários angolanos a exportarem para o seu país a madeira, café, e sobretudo, petróleo. Não, não é disso que Angola precisa, não queremos continuar a exportar madeira café e sobretudo petróleo e em contrapartida passar a importar bens com um alto valor agregado (como produtos processados e tecnologia), queremos consolidar uma base industrial forte capaz de atender “principalmente” a demanda interna, queremos maior autonomia nacional.

Concluindo, é facto que, estes acordos podem beneficiar os dois países, mas temos que atentar até onde tais benefícios vão, o que Angola ganha ou perde com os distintos acordos que tem assinado?

Entidades publicas angolanas, não sigam o encorajamento de continuar exportando madeira, café e sobretudo petróleo, a nossa dependência destes recursos a muito vêm impedindo o bom crescimento do nosso país, vamos diversificar, vamos tornar a nossa economia complexa, é hora de começar a falar em industrialização.

Tomara que, mediante esses acordos, o número de angolanos que forem para África do Sul (atraídos pela não aquisição de vistos) gastar dinheiro e demandar os seus serviços seja compensado pela entrada de empresários Sul-africanos em Angola. "Caso contrário, a gente só sai a perder"


Por: Alexandre F. Quinguri – AllQuing.
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