Exportações não trarão divisas, "parcialmente verdadeiro", até que nossas exportações sejam constantes e consistentes. Alguns "ditos economistas" têm argumentado por ai que a solução para saída da crise cambial será dada pelo aumento das exportações, outros chegam a frisar que, o simples facto da desvalorização do kwanza ser persistente e acentuada levará a um aumento nas exportações, como se houvesse uma relação inversamente proporcional exata entre ambas variáveis (baixa o preço da moeda aumenta o índice de exportação). É o fim da era petrolífera, eufóricos, muitos assim alegam. "Se eles soubessem!"

Vejamos:

1) Os empresários são movidos a exportar em duas situações: Quando o mercado nacional não absorve toda produção ou quando o mercado estrangeiro paga mais. Diante de ecos e factos, é possível verificarmos que, muito da produção nacional abrangendo os distintos setores económicos sequer têm sido suficientes para atender a demanda dos angolanos.

2) A consolidação das exportações de Angola levará anos (longo prazo) para se tornar um facto, é um processo que requer tempo, erros e acertos, fatores não económicos ou não quantificáveis devem ser levados em consideração.

3) Em economias de mercado - em qualquer sociedade onde vigora compra e venda, o consumidor é soberano, o investidor angolano pode ter todo incentivo do Estado para exportar, porém, se o consumidor além fronteiras não achar bom ou barato os nossos produtos, não haverá exportação.

4) Exportar significa enfrentar a concorrência do outro lado, é necessário ter qualidade e eficiência, é fundamental levar preço baixo e qualidade no mercado em que se pretende operar. É necessário suportar as leis tributárias e trabalhistas do mercado estrangeiro.

5) O que Angola tem para exportar no curto e médio prazo!? Muito pouco - isso mesmo, em termos monetários, muito pouco. Excepto os recursos naturais, tudo que podemos exportar no momento são produtos com baixo valor agregado, o que representa entradas de divisas para o país em quantidades mínimas, muito abaixo do desejado.

6) Quantos Klg de Tomate teremos de exportar para importar um container de computadores!? Quantos Kg de batata teremos de exportar para importar um container de smartphones!? Quantos Klg de jinguba teremos de exportar para importar um container de remédios!? Enfim, a lista é grande. Vamos continuar a mandar mais divisas para fora do que receber, exportando produtos minúsculos e importando produtos de alto valor agregado. Como exportar 1kg de sal a 3Usd e importar um Computador a 600Usd, ou exportar 1kg de Cebola a 2Usd e importar um cortador de gramas a 300Usd.

7) Mais exportações dependem principalmente de uma classe empresarial forte e disponível a assumir riscos. A nossa classe empresarial - a grosso modo é dotada de capacidade, instrução e vontade de desbravar outros mercados!? De produzir determinado bem de modo a vender para vizinhança, conquistar novos clientes, competir com produtos chineses, americanos e europeus em outros países!? Ou nossos grandes empresarios são os peculatos que usam e abusam do poder que lhes é confiado!?

8) Exportação depende tanto de fatores internos quanto de fatores externos. O Estado pode conferir incentivos para o empresariado nacional, mas se do outro lado as condições não estiverem favoráveis, o empresário/investidor não poderá fazer muita coisa. Se nossos produtos e preços não forem competitivos, não havera "Made in Angola" na vizinhança.

9) A exportação é um dos caminhos para se chegar a arrecadação de mais divisas e a minimização da crise cambial, sim, nada contra isso. Mas não é tão simples como parece, é um jogo violento. Melhor tirarem o "cavalinho da chuva", parar de pensar que nos próximos anos nossas minúsculas exportações trarão divisas suficientes para ajudar a cobrir o nosso rombo. Exportação é consequência, consequência de varias causas, dentre elas a consolidação de uma boa base industrial - base esta que estamos longe de alcançar. Nossos recursos naturais (principalmente o petróleo) continuarão sendo a nossa vaca gorda, não é o fim da era do petróleo em Angola, muito pelo contrário, está longe de ser.

10) A teoria económico ensina que os fatores de vantagens comparativas da economia real – custos e produtividade de mão de obra, custos de matéria prima, custos de energia, custos de transporte e assim por diante – determinam a taxa de câmbio, todo este custo é repassado para o país importador na aquisição do produto final, determinando assim uma taxa de cambio mais alta ou mais baixa (dependendo da variação dos custos). Nossa estrutura de custos/produção/meios tecnológicos, não permitirão no curto-médio prazo levar produtos competitivos na vizinhança ou qualquer outro país algures no mundo.

Por: Alexandre F. Quinguri

Artigo também disponível no maior jornal económico do país (Expansão)

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