[Vejo tantos a pedir privatização, e ninguém a pedir cadeia para as pessoas envolvidas no desvio de dinheiro, deixar estes a solta, é continuar sustentando desvios 'por ai'].

Saca só, suponhamos que o BPC venha a ser privatizado hoje, num futuro breve ou tardio, o governo começará um novo BPC (instituição semelhante). Como assim, porquê!? - Porque é assim que funciona o mundo desde que a moeda foi monopolizada e Bancos Centrais vieram a existir, é assim que funciona em todos os países do mundo, dos mais liberais aos menos liberais, existem meios através do qual governos injetam dinheiro na macroeconomia de forma a expandir ou contrair o nível de moeda em circulação. Estes meios, vão além das ações tradicionais de política monetária.

A titulo de exemplo, ainda neste ano, o banco central dos Estados Unidos, anunciou uma grande liberalização de crédito para o mercado, 375 biliões em títulos do Tesouro e US$ 250 biliões em títulos hipotecários. O Fed também anunciou que lançará três novas linhas de crédito, incluindo as que foram usadas pelo banco central em 2008, para dar suporte ao mercado de crédito corporativo e ao consumidor. No Brasil, nos ultimos dias o Banco Central tem vindo a injetar dinheiro na economia através do BNDS e demais ações de política monetária de modo a aumentar a liquidez de moeda no mercado.

Bancos Centrais mundo afora se tornaram em supervisores e financiadores/emprestadores de ultima instância, uma das maiores ferramentas de política monetária usadas para expandir/contrair a moeda na macroeconomia é a emissão/contração de títulos/credito. Em todos os países isto é feito diretamente através de Bancos Centrais ou de instituições semelhantes vocacionadas para tal. Em Angola, o BPC (onde o governo é o maior acionista) tem se configurado numa destas instituições por ser o Banco que mais credito concede aos agentes economicos, principalmente a pessoas jurídicas. Além das ações típicas da política monetária, como venda de titulos/open market, depósitos compulsórios ou taxas de redesconto, de modo indireto, os decisores da política monetária em Angola têm no BPC um meio através do qual, a expansão/contração de moeda tem sido manipulado mediante empréstimo/não empréstimo de dinheiro a agentes económicos distintos.

Ao privatizarem o BPC, o índice agregado de crédito concedido a agentes económicos cairá drasticamente, assim como é difícil contrair crédito num Banco 100% privado, será difícil contrair credito no BPC após privatização, pois, o rigor técnico e administrativo será maior de forma a se evitar possíveis perdas e esbanjamento de dinheiro. Na tentativa de acabar com a corrupção via privatização, muitos empreendedores/investidores verão seus pedidos de crédito sendo barrados. Em compensação a privatização do BPC (se privatizarem), caso haver falta de liquidez no mercado, o BNA terá de ser mais flexível com open maker, taxa de redesconto e depósitos compulsorios além do que já tem sido, de modo a tornar as instituições bancarias mais flexíveis com seus clientes também, pois, o maior fornecedor de crédito (BPC) provavelmente perderá tal estatuto.

Se a gente aprender a combater a corrupção, o nepotismo e má gestão desde tenra idade, estaríamos evitando futuros pedidos de privatização, num pais onde exonerações funcionam feito jogos de cadeira, os que hoje desfalcam o BPC, amanhã estarão desfalcando outra instituição. Somente pedir privatização não é a solução, pois, maior parte das instituições públicas em Angola operam com índices de improdutividade muito elevado, logo, por uma questão de lógica, deveríamos privatizar tudo.

A privatização não vai acabar com a corrupção, impunidade e má gestão, a privatização não vai acabar com o esbanjamento de dinheiro público, - a privatização é necessária até certo ponto, mas não fundamental.

Vamos lutar por mais transparência, mais repasse de contas aos cidadãos, mais eficiência, mais concursos públicos de modo a fazer com que pessoas e instituições capacitadas ocupem funções estratégicas, vamos lutar para que o mal seja cortado pela raiz. Não é inteligente lutar para que se quebre um galho em uma árvore que se encontra enraizada no mal e em constante mutação. Vejo tantos a pedir privatização, e ninguém a pedir cadeia para as pessoas envolvidas no desvio de dinheiro, deixar estes a solta, é continuar sustentando desvios 'por ai'.

Os problemas estruturais e administrativos vão continuar enquanto os inergúmenos por trás de instituições financeiras estratégicas do país forem os mesmos, portanto, somente querer privatizar não será suficiente para resolver os problemas. Quem também sentirá o peso da privatização, serão os tomadores de créditos, as empresas de pequeno e médio porte.

Por: Alexandre F. Quinguri | AllQuing.

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