
Desde a sua descoberta em Angola o
petróleo tem sido a maior fonte de receita do país, tal facto não é novidade
para os angolanos, tampouco para os estrangeiros que almejam o país para
diversificados fins. “A vaca no penhasco” um conto muito conhecido que retrata
a história de um pobre vilarejo dependente de uma vaca que se viu forçado a
prosperar após a visita de um sábio e seu discípulo, os mesmos sentiram a
necessidade de matar a vaca para que o vilarejo viesse a despertar suas
habilidades e prosperar. E assim aconteceu.
Desde o alcance da paz em 2002, o
discurso sobre diversificação econômica não tem passado de uma falácia, em 2018
o também conhecido como ouro negro continuou sendo o bem com maior participação
no PIB e volume de exportação, o país integra a lista dos países que mais
sofrem com o preço baixo do petróleo. Em situação idêntica, encontram-se outros
países africanos, ricos em recursos minerais ou naturais, mas com uma estrutura
socioeconômica altamente debilitada. As quedas sucessivas do preço do brent no
mercado internacional, remetem o angolano em um beco onde a austeridade fiscal
vem sendo a única saída.
Embora membro da OPEP, o preço do
petróleo praticado pelo cartel ainda é fortemente elástico aos preços
praticados pela concorrência, deixando qualquer país dependente do petróleo
diante de riscos macroeconômicos iminentes. As variações percentuais da cotação
do brent e a qualidade de vida dos angolanos têm uma relação diretamente
proporcional.
Os demais setores da economia,
profissões e até habilidades individuais acabam no fracasso por não merecerem
real atenção ou não serem minuciosamente explorados pelos detentores* da gestão
pública. Conforme exposto por Neil de Grasse Tyson em uma de suas entrevistas:
Talvez o próximo Einstem esteja morrendo de fome na Etiópia..
E se não houvesse o petróleo em Angola,
seríamos uma potência agroalimentar em África? Estaríamos caminhando para
eficiência tecnológica? O turismo teria uma participação maior no PIB? O setor
industrial seria mais sólido e competitivo? Atingiríamos realmente a
diversificação econômica? Só saberíamos as respostas de tais questões se a
determinado ponto da história a “nossa vaca” viesse a ser jogada penhasco
abaixo.
A abundância de recursos naturais não
garante o desenvolvimento de um país, se assim fosse, determinados pontos da
África hoje precários representariam um dos melhores lugares do mundo para se
viver. O crescimento é garantido pelo conhecimento ao nível da sociedade, com
políticas voltadas a geração de capital humano eficiente e capaz de repensar a
estrutura socioeconômica da região. O principal caminho para geração de riqueza
é o investimento nas pessoas.
Assim como Angola, países como a
Zâmbia, onde a moeda nacional perdeu 45% do seu valor face ao dólar desde o
início do ano (2018), devido a uma queda acentuada do preço do cobre, o que
representa 70% das exportações e República Democrática do Congo, onde durante
anos recursos naturais têm sido motivo de guerras, migrações, divisões
internas, interesses internacionais e emancipação de governos corruptos são
consequências da alta dependência aos recursos naturais.
Uma análise feita pela OCDE em 2012
através do PISA, examinou a relação entre as notas dos alunos e a importância
dos recursos naturais na renda de cada nação e descobriu que aquelas com poucas
riquezas foram as que mais investiram em educação. Cingapura, Japão, Finlândia,
Liechenstein e Coreia do Sul, tiveram as melhores notas no Pisa. Nos últimos
lugares ficaram países como Arábia Saudita, Catar e Azerbaijão, onde boa
parte da renda vem do petróleo.
É necessário que os angolanos aprendam
a explorar suas demais habilidades, oportunidades e potencial, por mais que
isso implique no fim do ouro negro. A questão vai muito além do incentivo a
uma melhor gestão dos recursos naturais. Você pode não ter como extrair
determinada riqueza do solo, mas pode extraí-la da inteligência.
Por: Alexandre F. Quinguri – AllQuing.
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