Angola pretende voltar a importar carros usados. A intenção, manifestada recentemente pela Associação Industrial de Angola (AIA) e outros parceiros sociais, visa beneficiar a economia e o empresariado, sobretudo do sector da agricultura, já que facilita as ligações entre o campo e a cidade.

A palavra importação sempre foi constante no discurso dos angolanos, sempre fomos dependentes de produtos externos, sempre fomos fortemente afetados pelas volatilidades internacionais. Face a crise financeira e econômica que atualmente o país vive, um dos discursos mais constantes tem sido a diversificação econômica, mas, até que ponto a importação de carros usados vai ajudar a resolver o problema de transporte dos angolanos ou a diversificação da macroeconomia nacional.

É justo admitirmos que a importação de automóveis, principalmente pesados (como por ex. carrinhas) se faz necessário, atendendo o elevado custo de adquiri-los quando novo e a tamanha procura por parte de comerciantes, empresários e principalmente agricultores quando o assunto é escoação de produtos dos campos para os pontos de venda, o que não pode se dizer o mesmo de automóveis ligeiros, será de alguma forma ineficiente a importação deste ultimo na tentativa de resolver o problema de locomoção que a população enfrenta.

A AIA defendeu que hoje nem todos têm a capacidade de comprar um carro novo, com esta medida os preços das peças e dos direitos aduaneiros também vão baixar. Em Angola a maioria não tem condições de comprar um carro, seja ele novo ou usado, o real problema assenta sobre o precário estado do transporte publico angolano, forçando os cidadão a gastar somas avultadas de dinheiro com transporte não publico (táxis).

O ano passado (2017) o salário mínimo em Angola ficou em torno de 16.500Kz. Devido a insuficiência e ineficiência dos transportes públicos, maior parte do povo angolano usa o transporte privado (os famosos táxis) para movimentações rotineiras como ir ao trabalho ou escola, em média gasta-se 300Kz por dia (considerando um trajeto de ida e volta com apenas duas passagens) contabilizando um total de 36% por cada salário mínimo, considerando o gasto mensal, em muitos casos esses valores chegam a ser maior que 50% considerando as pessoas que gastam mais de duas passagens durante o dia.

Assim como o transporte publico a estrutura rodoviária deixa muito a desejar, questões que vão desde estradas degradadas e sem manutenção, falta de semáforos e vias alternativas constituem um problema a locomoção de muitos angolanos. Vamos passar a importar carros usados para continuar perdendo tempo em longos engarrafamentos, gastos com taxas de circulação e com isso continuar tendo um sistema rodoviário precário.

O ministro referiu que os resultados dos estudos serão conhecidos brevemente e, “Angola não pode ser o ponto de sucata de outros países, ou seja, os carros que já não se usam não podem entrar aqui”, disse Augusto Tomás.

Vale lembrar e reforçar que, a questão vai muito alem de Angola ser um ponto de sucata, pois, os reais problemas que a sociedade angolana enfrenta merecem ser resolvidos com prioridade, e um deles é o transporte publico, com um sistema de transporte acessível e eficiente, com certeza o índice de pessoas querendo ter um transporte próprio cai, a compra de carros ligeiros usados não vai resolver o problema de transporte dos angolanos.

 
Vale ressaltar que, o presente texto não visa refutar a importação de carros usados, sejam eles ligeiros ou pesados, mas, apontar isto como uma alternativa pouco acertada para resolução dos problemas de transporte dos angolanos. Mais uma vez, estamos atacando as consequências e não as causas.

Por: Alexandre F. Quinguri
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